Sempre achei que neste processo falta sobretudo bom-senso. Do lado do ministério, não compreendo como é que se chegou a este ponto. Se havia erros, lacunas, complicações desnecessárias, má concepção e má organização interna do famigerado “processo de avaliação”, porque é que não foram detectadas mais cedo? Parece que se fazem as coisas em beta-version para experimentar, usando os professores como cobaias, e depois corrige-se quando há problemas e, sobretudo, se há contestação. Afinal o processo vai ser simplificado. Isso quer dizer que, de início, era complicado, que o ministério é incapaz de elaborar um processo simples, claro, previamente discutido e melhorado. Mas a firmeza da ministra, alvo de todas as farpas e de todos os insultos, em recusar-se a suspender o processo, é de louvar. Não andamos a brincar às avaliações, não andamos a brincar à educação. Está na hora de este país deixar as meias-reformas, os processos inacabados. E se só falta um ano para as eleições, maior é a admiração que deve suscitar.
E AINDA
O prestígio da classe docente está destroçado. Dói-me, e digo-o sem reservas e sem ironia, quando oiço (e já ouvi por diversas vezes) uma professora com muitos anos de serviço anunciar a sua reforma por estar farta, desorientada e cansada, por se achar desrespeitada e a perder demasiado tempo com burocracias e papéis em vez de ensinar os alunos. E imagino o aperto que é para um jovem professor andar com a casa às costas anos a fio, umas horas aqui, outras ali, projectos de vida adiados, mais um ano, pode ser que para o próximo consiga, um ano a ensinar, outro desempregado.
Porém, a classe docente perdeu e perde pontos. Os maiores inimigos dos professores parecem ser eles próprios, porque se desrespeitam a si mesmos e não se fazem respeitar. Os professores, como os médicos, como os magistrados, como as forças policiais e militares, são cidadãos especiais, com responsabilidades especiais. Querem respeito, mereçam-no. A torrente de insultos, de calúnias, de piadas de mau-gosto, de insinuações, acerca da ministra da educação, libertada pelo fel de muitos professores nas últimas semanas, na blogosfera como noutros palcos, é um boomerang que mais cedo ou mais tarde se volta contra os professores. Há uma dignidade na função docente que está a ser desbaratada.
texto completo aqui: http://jugular.blogs.sapo.pt/535819.html
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