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Com a devida vénia

Denunciar o que deve ser denunciado, sim?

por Pedro Sousa em 7 de Outubro de 2012

em Com a devida vénia,País

Ontem mesmo, no Congresso das Alternativas Democráticas, ouvi uma ou outra pessoa assacar as culpas da situação catastrófica em que vivemos aos “6 anos de governação socialista”.
Fico sempre surpreendida – ou não? – quando vejo gente de esquerda absorver o discurso cuspido e escarrado a partir de 2007 pela direita, histérica por chegar ao poder.
Um discurso que andou por todo o lado, na imprensa do costume, nos doutrinadores de serviço, sabendo da sua mentira, um discurso apoiado na crise 2007-2010, já então a maior de que tínhamos memória em 80 anos, para usar de 3 anos de evidente crime internacional um mote para o sound bite “os últimos seis anos do PS”.
Aflige-me gente de esquerda, que tem de ter na sua identidade genética um profundo desprezo e uma atenta identificação dos culpados do que se passou a partir de 2007, os mercados financeiros internacionais, o seu comportamento de ganância desumana, os crimes conhecidos de 2007, em vez de se horrorizar com as consequências que estes poderes desregulados e sem rosto tiveram nas nossas vidas, em vez de bramirem contra o capitalismo selvagem, prefiram atacar os políticos que há data governavam e tentavam resistir-lhes.
Repetem e repetem a frase desta maioria: que o anterior Governo subiu a dívida em 38%.
“Seis anos – dizem”.
De que falam?
Sem crise internacional, sem contágio da crise dos mercados financeiros, o anterior Governo, nos seus primeiros anos – é que foram realmente 6 –, reduziu o défice deixado pela direita PSD/CDS, que governou sem crise, de 6, 8 para 3%.
Foi o Governo da reforma da segurança social, foi o Governo da reforma da energia, foi o Governo da reforma da Educação (Inglês no básico ou as novas oportunidades), foi o Governo da simplificação administrativa, de muita coisa, que pelo meio terá errado, sim, essa coisa exclusiva de quem é eleito e estranha a quem nunca tem os votos dos portugueses para tanto.
O tal “Governo de seis anos” foi atingido pela crise que atingiu todos. Sim, a dívida subiu – não nos seis anos – mas no final, 38%. Culpa do anterior Governo? Talvez. Mas então também culpa sua que na mesma altura a dívida do Reino Unido tenha subido 58%, que a dívida da Espanha tenha subido 60%, que a dívida dos EUA tenha subido 53%, que a dívida média da UE tenha subido 34% ou mesmo que a dívida da Irlanda tenha subido 200%.
O que fizeram estes Governantes foi o seu dever. Enquanto recebiam ondas de crise faziam uma outra dívida, a da proteção dos mais fracos.
Por isso aflige-me que gente de esquerda grite mais contra um homem do que contra todo um sistema selvagem que supostamente repudiam ideologicamente, precisamente porque uma coisa destas, a crise que começou em 2007, criminosa, pode acontecer.
Podendo acontecer, quem é de esquerda não alinha em políticas que têm o mesmo resultado das ditas crises. Começa precisamente por aí, por se arrepiar com a correria com que a direita, aliando-se à extrema-esquerda, quis ir para o poder, nas tintas para a palavra dada, como se está a ver, e executando o que um monstro financeiro poderoso e invisível executaria.
O mal não são “os últimos seis anos do PS” ou dos Governantes que enunciei.
O mal é outro e ameaça a democracia.
O resgate a fazer é esse: o da democracia, que é como quem diz o resgate de escolhas. Renegociar. Bater o pé. Juntarmo-nos à Espanha, à Itália, à Grécia – já agora não faltar a essas reuniões – e exigir uma mudança de política. Não há memória de tratados inalterados. Seria anedótico um acordo ser de pedra.
Liderar não é apresentar um programa selvagem à TROIKA e anunciar com cara de puto que se passou no exame, que se “cumpriu”, à custa de “incumprir” com todos nós.
Liderar é estar ao lado do povo e dizer que a mudança impõe-se.
Contestar é querer exatamente isto, prevenir da adesão do Governo à imoralidade de um qualquer agente financeiro de 2007; não é, certamente, ilibar os criminosos do início desta história engolindo a mentira de uma tal “Governo de seis anos”.

Isabel Moreira

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“Na prática, na substância – essa massa pegajosa – o que as medidas de hoje querem dizer é isto: continuam a tirar dois subsídios ao serviço público, e, no privado, aplica-se um imposto aos trabalhadores e entrega-se, oferece-se incondicionalmente, a respetiva receita fiscal – dinheiro dos contribuintes, a única forma assumida pelos humanos que agrada aos liberais – às empresas. Pequenas, grandes, lucrativas, não lucrativas, que mandam os rendimentos para fora, que deixam os rendimentos cá dentro. É uma transferência do capital para o trabalho à mão armada.

Se a luta de classes morreu é porque já só resta um dos lados.”

Luis Gaspar

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O PLURALISMO DA TVI

por Pedro Sousa em 28 de Fevereiro de 2011

em Com a devida vénia

Como há poucos comentadores do PSD nas televisões privadas a TVI contratou agora o Alberto João. Mas podemos estar descansados, a TVI respeita o pluralismo e do lado do PSD tem cinco nomes, para além desta aquisição conta com Marques Mendes, Braga de Macedo, Santana Lopes e Marcelo Rebelo de Sousa, mas o PS e José Sócrates podem estar descansados para fazer frente aos cinco do PSD, um deles com um programa pessoal e intransmissível, podem contar com três nomes do PS daqueles que todos os dias aparecem a defender o seu partido, são eles Joaquim Pina Moura, Manuel Maria Carrilho e Ana Gomes.

Mas o melhor é não protestarem pois a TVI pode decidir equilibrar as coisas e ainda convidam o Narciso Miranda e o Henrique Neto!

blog O Jumento

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DIZEM QUE SAIU NO FINANCIAL TIMES (genial…)

por Pedro Sousa em 17 de Outubro de 2010

em Com a devida vénia

Uma jovem mulher enviou um e-mail para o jornal a pedir dicas sobre “como arranjar um marido rico”.

Contudo, mais inacreditável que o “pedido” da rapariga, foi a resposta do editor do jornal que, muito inspirado, respondeu à mensagem, de forma muito bem fundamentada.

E-mail da rapariga:

“Sou uma garota linda (maravilhosamente linda) de 25 anos.
Sou bem articulada e tenho classe. Quero casar-me com alguém que ganhe no mínimo meio milhão de dólares por ano. Há algum homem que ganhe 500 mil ou mais neste jornal, ou alguma mulher casada com alguém que ganhe isso e que possa me dar algumas dicas?
Já namorei homens que ganham por volta de 200 a 250 mil, mas não consigo passar disso. E 250 mil por ano não me vão permitir morar em Central Park West.
Conheço uma mulher (do meu grupo de ioga) que casou com um banqueiro e vive em Tribeca! E ela não é tão bonita quanto eu, nem é inteligente.
Então, o que é que ela fez que eu não fiz? Qual a estratégia correcta?
Como chego ao nível dela?”

(Raphaella S.)

____________________

Resposta do editor do jornal:

“Li a sua consulta com grande interesse, pensei cuidadosamente no seu caso e fiz uma análise da situação.

Primeiramente, eu ganho mais de 500 mil por ano. Portanto, não estou a tomar o seu tempo à toa…
Posto isto, considero os factos da seguinte forma: Visto da perspectiva de um homem como eu (que tenho os requisitos que procura), o que oferece é simplesmente um péssimo negócio.
Eis o porquê: deixando o convencionalismo de lado, o que sugere é uma negociação simples, proposta clara, sem entrelinhas: Você entra com a beleza física e eu entro com o dinheiro.
Mas há um problema.
Com toda a certeza, com o tempo a sua beleza vai diminuir e um dia acabar, ao contrário do meu dinheiro que, com o tempo, continuará a aumentar.

Assim, em termos económicos, você é um activo que sofre depreciação e eu sou um activo que rende dividendos. Você não somente sofre depreciação, mas sofre uma depreciação progressiva, ou seja, sempre a
aumentar!

Explicando, você tem 25 anos hoje e deve continuar linda pelos próximos 5 ou 10 anos, mas sempre um pouco menos a cada ano. E no futuro, quando se comparar com uma fotografia de hoje, verá que se
transformou num caco.

Isto é, hoje você está em ‘alta’, na época ideal de ser vendida, mas não de ser comprada.

Usando a terminologia de Wall Street, quem a tiver hoje deve mantê-la como ‘trading position’ (posição para comercializar) e não como ‘buy and hold’ (comprar e manter), que é para o que você  se oferece…

Portanto, ainda em termos comerciais, casar (que é um ‘buy and hold’) consigo não é um bom negócio a médio/longo prazo! Mas alugá-la, sim!
Assim, em termos sociais, um negócio razoável a ponderar é, namorar.

Sem ponderar… Mas, já a ponderar e, para me certificar do quão ‘articulada, com classe e maravilhosamente linda’ você é, eu, na condição de provável futuro locatário dessa ’máquina’, quero
tão-somente o que é de praxe: fazer um ‘test drive’ antes de fechar o negócio… podemos marcar?”

(Philip Stephens, associate editor of the Financial Times – USA)

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“Caro professor, ele terá de aprender que nem todos os homens são justos, nem todos são verdadeiros, mas por favor diga-lhe que, por cada vilão há um herói, que por cada egoísta, há também um líder dedicado, ensine-lhe por favor que por cada inimigo haverá também um amigo, ensine-lhe que mais vale uma moeda ganha que uma moeda encontrada, ensine-o a perder mas também a saber gozar da vitória, afaste-o da inveja e dê-lhe a conhecer a alegria profunda do sorriso silencioso, faça-o maravilhar-se com os livros, mas deixe-o também perder-se com os pássaros do céu, as flores do campo, os montes e os vales.
Nas brincadeiras com os amigos, explique-lhe que a derrota honrosa vale mais que a vitória vergonhosa, ensine-o a acreditar em si, mesmo se sozinho contra todos. Ensine-o a ser gentil com os gentis e duro com os duros, ensine-o a nunca entrar no comboio simplesmente porque os outros também entraram.
Ensine-o a ouvir a todos, mas, na hora da verdade, a decidir sozinho, ensine-o a rir quando esta triste e explique-lhe que por vezes os homens também choram. Ensine-o a ignorar as multidões que reclamam sangue e a lutar só contra todos, se ele achar que tem razão.
Trate-o bem, mas não o mime, pois só o teste do fogo faz o verdadeiro aço, deixe-o ter a coragem de ser impaciente e a paciência de ser corajoso.
Transmita-lhe uma fé sublime no Criador e fé também em si, pois só assim poderá ter fé nos homens.
Eu sei que estou a pedir muito, mas veja que pode fazer, caro professor.”

Abraham Lincoln, 1830

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O MENINO QUE CONSERTOU O MUNDO

por Pedro Sousa em 3 de Setembro de 2010

em Com a devida vénia,Estado de Espírito

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Lendo por aí…

por Pedro Sousa em 27 de Junho de 2010

em Com a devida vénia,País

Espanha está em estado de choque por causa da morte de 12 jovens que juntamente com mais 20 amigos resolveram ignorar uma proibição de atravessar a linha de um comboio na madrugada de quinta-feira quando se dirigiam para uma festa na praia de Castelldefels, na Catalunha. O acto foi de pura irresponsabilidade. De amnésia total. Assim que saltaram da carruagem, seguiram em frente pelos carris e quando a maioria se apercebeu do perigo já era tarde de mais. Do outro lado circulava um comboio rápido que apitou e tentou travar. De nada serviu. Houve 12 que tiveram morte imediata e mais 13 que tiveram de ser internados com traumatismos vários. Mal se soube desta tragédia, apareceram logo vários personagens a tentar encontrar um culpado. Eram sobretudo testemunhas do que se tinha passado, mas também havia quem apenas quisesse aparecer na televisão ou nos jornais para debitar uma sentença. O mais curioso é que a culpa deste acto de inconsciência teria de ser de algo ou de alguém que não do grupo que o praticou. Surgiram assim as mais variadas interpretações para o sucedido: a estação não estava bem iluminada; a passagem subterrânea é muito estreita e tinha muita gente; não havia seguranças para controlar os passageiros; os altifalantes que avisam sobre a interdição de atravessar a linha do combóio estavam desligados; a noite era de festa e os jovens já estavam bêbados; a estação tem duas linhas de comboio e não deveria ter, etc., etc. Aos poucos e poucos, todos estes argumentos foram perdendo peso porque os inquéritos preliminares vieram confirmar que tudo estava a funcionar de forma correcta e que a única explicação para o acidente fora a imprudência do grupo. Imprudência? Sim, imprudência. Apenas e só, não há volta a dar. Agora, há que consolar os pais que perderam os filhos que saíram de casa naquela noite para se divertirem e reflectir sobre o que é a nossa responsabilidade e a dos outros.

Conto aqui este caso porque todos sofremos com os eventuais riscos que correm os nossos filhos quando não estamos por perto. Educar é uma tarefa difícil. É como construir uma casa sólida, resistente a intempéries e terramotos. Um ser humano responsável é aquele que nos momentos de maior descontrolo sabe o que quer para si próprio e para os outros. É aquele que é capaz de dizer não e de indicar o caminho certo quando vê que todos se dirigem para o abismo. É o que não se queixa, nem procura culpados, quando sabe que fez mal. É aquele que se contenta com o pode ter. É o que sabe que o respeito pelos demais começa por algo tão simples como em não atirar um papel para o chão. Saberemos nós, hoje em dia, dar estes exemplos?

Maria de Lurde Vale – DN

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Lendo por aí…

por Pedro Sousa em 2 de Junho de 2010

em Com a devida vénia,Estado de Espírito

“A teacher affects eternity; he can never tell where his influence stops.” -

Henry Brooks Adams

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Post de admiração

por Pedro Sousa em 18 de Abril de 2010

em Arouca,Com a devida vénia

Admiro todos aqueles que abdicam de si pelos outros;

Admiro todos os que largam tudo cá e vão longe tentar agarrar algo;

Admiro todos os que conseguem, no meio da probreza, encontrar e mesmo criar motivos de satisfação;

Admiro todos os que abandonam luxos para receber esforços;

Admiro todos os que encontram enorme riqueza ao minorar a pobreza;

Admiro todos os que, muito mais do que eu, vêm do outro lado do mundo um vizinho que precisa de ajuda;

Admiro, por tudo isto e muito mais, a Rita, a Carla e o Avelino que vão partir em missão de voluntariado para Lichinga em Moçambique e que ainda pagam para isso (procuram patrocinio para o nobre acto, portanto quem puder, faça favor de ajudar).

Podem seguir os detalhes desta aventura em Lichinga2010

O link continuará na coluna da esquerda enquanto durar a aventura

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uau!!!

por Pedro Sousa em 4 de Março de 2010

em Com a devida vénia

Cada vez mais me enoja a promiscuidade na capital deste país, um pequeno grupo de gente que se auto-designa de elite, nascidos na classe média da administração salazarista e que hoje domina uma boa parte da vida.

São jornalistas, são deputados, são jurisconsultos, são consultores das mais variadas artes, são comentadores televisivos, são gente que nunca teve dificuldades na vida, a quem para arranjar um emprego para um filho basta um telefonema, para comprarem um carro novo basta uma cunha para mais uma avença. Se foram apanhados na declaração de IRS telefonam ao fulano tal, se precisam de uma operação no hospital passam à frente da fila de espera, resolvem todos os seus problemas com um mero telefonema, são um verdadeiro grupo mafioso assente numa imensa rede de contactos, de compadrios assentes na troca de valores.

Esta gente não tem cor política, não tem ideologia, não tem princípios, não tem o mais pequeno respeito pelo povo que os alimenta e enriquece, de manhã são jornalistas e à noite bloggers, num dia são magistrados e no outro juízes desportivos, se estão na oposição coleccionam avenças, quando beneficiam do poder vão para administradores de empresas públicas, ora são assessores de líderes partidários, ora são directores de jornais.

Esta gente não imagina o que é viver com o ordenado mínimo, nunca estiveram em terra a esperar o regresso de um pai que está no mar debaixo de um temporal, não sabem quanto humilha estar numa fila de desempregados, não imaginam o que se sofre quando se tem de alimentar filhos sem ter dinheiro, não sabem o que é mandar um filho para a escola sem o pequeno-almoço. Não sabem, não imaginam, nem querem saber, têm o maior do desprezo pelo povo cuja opinião gostam de manipular. No entanto ganham rios de dinheiro a comentar nas televisões sobre a melhor forma de resolver os problemas do país e dos portugueses.

Andam por aí a alardear grandes currículos, são ilustres jurisconsultos, jornalistas de primeira água, comentadores televisivos, sentem-se superiores aos que tanto usam nos seus discursos de conveniência. Queixam-se da crise mas ganham com ela, propõem sacrifícios para os outros mas multiplicam a sua riqueza, preocupam-se com a iliteracia mas olham para os outros com o desprezo e incomodam-se pela falta do perfume a 100 euros, há décadas que propõem novas soluções e o resultado é aquilo que se vê.

Cada vez sinto mais nojo desta elite que julga que todo o poder eleito pelo povo lhes deve prestar vassalagem, estão convencidos de que só os “bem falantes” têm direito a expressar as suas opiniões, que julgam que o povo que vota é uma imensa borregada que lhes deve perguntar onde devem votar, que acham que podem fazer e desfazer qualquer político.

É tempo de dizer não a esta imensa promiscuidade disfarçada de bons princípios. É preciso dizer não a esta gente, denunciá-la, combatê-la, antes que passemos a sentir nojo do próprio país. Portugal não é esta seita de proxenetas de gravata Hermes, que se instalou no poder da capital para viver à custa do subdesenvolvimento do país. O meu país é o meu povo e esse é eticamente muito superior a esses canalhas, é gente que sua por cada tostão de ganha, trabalhadores que tiram dos seus filhos os impostos que alimenta essa elite da treta, empresários que todos os meses lutam para que as suas empresas consigam pagar os ordenados dos trabalhadores no fim do mês.

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