Estou ainda espantado com o discurso do Presidente da Repúbica… uma mão cheia de nada e que pouco contribuiu para aquele que é o seu principal papel de acordo com a Constituição: “O Presidente da República representa a República Portuguesa, garante a independência nacional, a unidade do Estado e o regular funcionamento das instituições democráticas e é, por inerência, Comandante Supremo das Forças Armadas.”. O discurso que ouvimos encaixa onde?
Não é no garantir do regular funcionamento das instituições nem na unidade do Estado. É em quê?
É normal, obviamente, que a questão das escutas incomode o Presidente da República. Mas se este decide fazer uma comunicação ao país – algo considerado solene – convém que seja algo acertivo, que esclareça e tenha consequências. Não há memória de um discurso tão pobre de um Presidente da República.
Como disse Carlos Abreu Amorim “”Julgava que Cavaco Silva iria evitar mais ruído escusado – infelizmente enganei-me”.
Pessoalmente eu destacava 3 passagens:
1 – A anedótica: ““será possível alguém do exterior entrar no meu computador e conhecer os meus e-mails?” – bem, solicitei ao meu sobrinho de 14 anos que respondesse ao Presidente e ele disse-me que sim, caso o sistema não esteja bem “fechado”. Até o site do FBI já foi atacado. Portanto, o Prof. Cavaco não vive neste mundo ou não lê jornais (vício que lhe vem de há muito).
2 – A que é o contrário uma da outra: diz Cavaco Silva “O Presidente da República não cede a pressões nem se deixa condicionar [...]” para depois acrescentar ” [...] compreendam que fui forçado a fazer algo que não costumo fazer[...]”
3 – A que define cidadãos de primeira e de segunda: Considerou grave que “[...] destacadas personalidades do partido do Governo [...] “ pedissem um esclarecimento ao Presidente, mas considera que não consegue ver bem ”[...] onde está o crime de um cidadão, mesmo que seja membro do staff da casa civil do Presidente, ter sentimentos de desconfiança ou de outra natureza em relação a atitudes de outras pessoas“.
Se muitos consideravam que Cavaco Silva não tinha o postura de estadista necessária ao cargo de Presidente (já tinhamos tido o caso de se deixar humilhar na Madeira e de não ter assumido consequências do seu acto aquando da comunicação sobre o estatuto dos Açores) esta comunicação é o prego final e demonstrativo de que Cavaco Silva é um tecnocrata que gosta de se envolver na política partidária.
Como disse Manuel Serrão no Jornal de Notícias ” [...] passaremos a falar de presidenciais e ou me engano muito, ou vamos ter pela primeira vez na história da democracia portuguesa um presidente que pôs em causa a sua reeleição. Por causa de uma mulher? Não. Por causa do seu mau feitio“