A vida de todos nós é feita de surpresas, nem todas boas!
Pela minha parte, confesso que não esperava algumas que tenho tido ultimamente, do mesmo modo que tão pouco esperava ser eu próprio motivo de surpresa para alguém!
Ora vejamos:
Nunca, até há cerca de 4 anos atrás, admiti a mim próprio, sequer como hipótese, que algum dia pudesse vir a desempenhar funções executivas na Câmara Municipal.
E o que é que se passou?
Em 2005, o PS esteve na iminência de não apresentar candidaturas às eleições autárquicas. Alguns acharão que foi uma pena tê-las apresentado!… Mas, adiante!…
A situação era tanto mais grave quanto é certo que o PS acabou por ganhar as eleições para a Câmara, ainda que apenas com maioria relativa, o que significa que apresentou aos Arouquenses uma equipa e um programa mais credíveis do que os das várias forças políticas concorrentes.
Tal como já havia acontecido há 8 anos atrás, também há 4 anos fui eu um dos artífices fundamentais da estratégia política que veio a ser definida e executada para as eleições autárquicas. Aliás, os pilares e as fases mais importantes dessa estratégia foram modelados, desenvolvidos e discutidos em minha casa.
Foi aí, na minha casa, que há 8 anos se decidiu que o nº 2 da lista da Câmara seria o senhor Engº Artur Neves, e se formatou toda a estratégia política de que resultou a vitória eleitoral então obtida pelo Dr. Zola sob a bandeira do PS.
Do mesmo modo, foi aí, na minha casa, que, há 4 anos, se repetiu o essencial do ritual para, desta vez, apresentar o senhor Eng. Artur Neves como cabeça de lista do PS.
Mas, a formação da lista para a Câmara em 2005 foi um processo assaz atribulado, que esteve a um passo muito curto de se tornar uma “missão quase impossível”.
E isto porque, para além de o processo ter começado muito tarde, os 2 primeiros convidados para cabeça da lista à Câmara demoraram cerca de 6 semanas a recusar o convite que lhes foi dirigido, primeiro a um e, depois, a outro.
E, quando, por fim, já em desespero de causa, se encontrou um candidato para o primeiro lugar da lista, o primeiro dos convidados para o 2º lugar demorou mais de 2 semanas a responder “não, obrigado”, e o segundo convidado viria a ser vetado por quem na altura se arrogava o privilégio de poder fazê-lo.
E, nesses convites frustrados, perderam-se dois preciosos meses, quer para o processo relativo à candidatura à Câmara, quer, por arrastamento, para o da assembleia municipal, e para o das juntas de freguesia.
Com o termo do prazo para a entrega das listas no tribunal a aproximar-se rapidamente, e tudo praticamente por fazer, e com tantos obstáculos e percalços a vencer, um dos quais e dos mais difíceis era a desconfiança de alguns sectores relativamente ao cabeça de lista à Câmara, senti que, ou eu me dispunha a assumir o 2º lugar na lista ou se caminhava inexoravelmente para a situação dramática, inédita, escandalosa, caricata e humilhante para Arouca de, pela primeira vez no regime democrático, o PS não apresentar candidaturas às eleições autárquicas.
Acontece que eu jamais ambicionara ou admitira sequer vir algum dia a desempenhar algum cargo executivo (na Câmara), seja como vereador ou mesmo como presidente.
Por isso, tais cargos sempre estiveram fora, permanente e firmemente fora, dos meus horizontes de vida, como, de resto, fiz questão de afirmar e repetidamente enfatizar sempre que alguém me acenava com essa possibilidade ou me desafiava para assumir tais responsabilidades.
As minhas prioridades, os meus projectos de vida e a minha vocação foram desde sempre a minha actividade profissional, primeiro na Administração Pública e, depois, desde há 20 anos, na advocacia.
Mas, como se me tivessem rogado uma praga, eis que o ano de 2005 chegou e, com ele, a factura onerada com juros muito elevados!…
A verdade é que (especialmente depois de serem conhecidas as candidaturas das forças políticas concorrentes) eu senti pesar sobre mim a responsabilidade de ocupar o 2º lugar na lista, a despeito de não ser então o Presidente da Comissão Política do PS de Arouca, pagando, para tal, o preço que se mostrasse necessário, a fim de evitar a tragédia e a humilhação que seria para Arouca a não apresentação de candidaturas às eleições autárquicas daquele ano.
E não tive escolha: os imperativos da responsabilidade política, cívica e social, e o amor a Arouca pesaram muito mais do que as minhas conveniências pessoais e interesses legítimos, incluindo os aspectos de natureza económica e outros de natureza familiar.
Após a vitória eleitoral do PS, em que muito poucos acreditavam, consegui uma solução de compromisso possível entre a minha profissão de advogado (de que não podia nem queria abdicar em circunstância alguma) e as responsabilidades autárquicas.
Assumi, pois, primeiro, as funções de vereador a meio tempo, a que se juntaram, desde logo, em acumulação, os cargos de vice-presidente da Câmara e presidente da direcção da Adrimag (prestigiada associação de âmbito intermunicipal que dá actualmente emprego a 22 colaboradores).
Pouco depois, mantendo embora, oficialmente, o cargo de vereador ainda a meio tempo, mas com o outro meio cada vez mais encolhido, passei a acumular aqueles cargos com a responsabilidade de criar o Geoparque Arouca e constituir a respectiva Associação, presidir à sua comissão instaladora e à Direcção eleita nos termos dos Estatutos que eu próprio elaborei, e, bem assim, a presidir à Direcção da Minha Terra-Federação (de âmbito nacional) das Associações de Desenvolvimento Rural.
Para além disso, o cargo de vereador a meio tempo (com os pelouros do urbanismo, recursos humanos e alguns segmentos da área financeira sob a minha responsabilidade) ainda permitiu superintender o Gabinete Jurídico, quer apoiando a senhora Dra. Paula Pinto (jurista profissionalmente muito dotada, competente e dedicada) quer substituindo-a nas suas férias e, bem assim, durante os 5 meses que esteve ausente dos serviços por licença de maternidade.
Tanto trabalho para um simples vereador a meio tempo!…
Trabalho a que me devotei intensamente e sempre movido, apenas e só, pelo interesse do Município, e no qual sempre procurei honrar o compromisso assumido na campanha eleitoral: “servir os Arouquenses”!
Na hora em que, por decisão minha, termino a honrosa missão de serviço público que tenho vindo a desempenhar como vereador a meio tempo – a partir de amanhã, dia 28, cesso as funções de vice-presidente, e, a partir de 31 de Agosto próximo, deixo o cargo de vereador a meio tempo – não ficaria de bem comigo mesmo se desperdiçasse esta oportunidade de lhe testemunhar, a si em particular, quão gratificante e enriquecedor foi para mim este tempo em que tive a felicidade e o privilégio de trabalhar consigo (e com todos os demais que vêm dando no dia a dia o seu melhor) por Arouca e pelos Arouquenses.
Por certo se interrogará – muito se interrogarão! – porquê renunciar nesta altura aos cargos e cessar as funções inerentes, e não no final do mandato, afinal já tão próximo?
Faço-o porque o tempo entretanto decorrido já me permitiu conhecer a inteireza de carácter e as qualidades pessoais que definem a verdadeira dimensão moral, social e política daqueles com quem tive a oportunidade de trabalhar e colaborar.
Faço-o ainda porque, para além das múltiplas e relevantes razões por que nem sequer deveria ter assumido aqueles cargos, outras surgiram muito recentemente, mas, ao menos para já, me abstenho de explicitar, que tornam absolutamente insustentável e inexigível a minha continuação no exercício daqueles cargos.
Faço-o, finalmente, porque os compromissos eleitorais realmente importantes para este mandato, ou já se cumpriram ou já não se cumprirão!
Posso, pois, de consciência tranquila, partir desde já, sem que os interesses relevantes do Município fiquem minimamente em risco.
Ainda assim, continuarei, salvo algum imprevisto inultrapassável, a cumprir o mandato de vereador para que fui eleito (agora sem pelouros) até à entrada em funções dos novos órgãos autárquicos a eleger em 11 de Outubro próximo.
Sinto-me feliz, realizado, por ter estado associado e participado no muito de bom que se fez por Arouca e fica a marcar este mandato.
Terminada, ainda que um pouco prematuramente, a missão de serviço público, que assumi há quase 4 anos, não vou fugir (!!!!!…)
Não vou alhear-me do que fica nem dos que ficam. Como alguém, de quem, aliás, não sou admirador, diria: “vou andar por ai”.
Quero, nesta hora dizer-lhe que foi uma honra enorme e um desafio gratificante e inesquecível ter desempenhado este mandato a servir consigo e outros mais os Arouquenses, que são a razão de ser da existência dos serviços municipais e dos seus funcionários.
Finalmente, quero desejar-lhe as maiores felicidades pessoais e os maiores êxitos profissionais, e agradecer-lhe vivamente, de todo o coração, o notável contributo que deu, e o esforço, dedicação e paixão que juntou aos meus, em ordem a fazermos deste nosso concelho uma terra que nos enche de orgulho e onde é cada vez mais agradável viver.