Uma empresa de calçado de Arouca tem o futuro ameaçado por não arranjar trabalhadores.
A Controlfactor recorreu aos centros de emprego e disponibilizou cursos de formação, mas são muito poucos os interessados.
“Decidimos aumentar o quadro de pessoal, apostando primeiro em acções de formação, para depois escolhermos funcionários para a empresa”, explicou António Belém, administrador da Controlfactor, que emprega cerca de 90 pessoas. A iniciativa, ao contrário do esperado, esbarrou na falta de interessados em frequentar a acção de formação.
O responsável pela empresa de calçado lembra que, das 50 pessoas que foram seleccionadas pelos centros de emprego, “todas do concelho de Arouca”, “apenas quatro mostraram interesse em frequentar a formação”. “Não posso arrancar com apenas quatro pessoas”, adiantou Manuel Belém que, a cada dia que passa, soma prejuízos com a deslocação que foi efectuada pela unidade móvel do Centro de Formação do Calçado, entidade responsável pela referida acção de formação.
“As pessoas podem pensar que vou ganhar dinheiro com a formação, mas acontece precisamente o contrário”, referiu o administrador da empresa. “Estou a pagar do meu bolso este curso e se não arranjar interessados nos próximos dias vou desistir de vez da iniciativa”, explicou.
Nem mesmo o facto de quem frequentar a formação poder continuar a usufruir do fundo de desemprego, além de receber subsídio de alimentação e de deslocação, parece ser suficientemente apelativo. Embora, em Arouca, o desemprego tenha aumentado.
O objectivo de António Belém passava por dar emprego à maioria das pessoas que entrassem na formação e mostrassem interesse em ingressar nos quadros da empresa, que começa a não conseguir dar respostas às encomendas. Mas tal não veio a acontecer.
Também a tentativa que há anos diz estar a levar a efeito junto dos centros de emprego para conseguir a desejada mão-de-obra, com experiência, não tem resultado. “As pessoas que para aqui são encaminhadas arranjam muitas desculpas para não quererem trabalhar na linha de produção. Uns dizem que têm filhos para tratar, outros que são de longe. É raro haver quem se mostre verdadeiramente com vontade de trabalhar”, observou.
António Belém, que tinha projectos para aumentar a empresa e dar emprego a mais funcionários, já teve que negociar a diminuição da encomenda que tinha com um dos principais clientes e teme que isso possa vir a ter consequências no futuro da empresa.
“Sei que não é um emprego de luxo, mas numa altura em que as pessoas se queixam tanto da crise não percebo por que recusam tão facilmente as propostas de trabalho. Estou desesperado com a falta de pessoal.Nos dias de hoje, para muitas pessoas isso pode parecer impossível de acontecer. Mas acontece”, concluiu
in Jornal de Notícias