VARIAÇÕES SOBRE A GUERRA DA AVALIAÇÃO

por Pedro Sousa em 24 de Novembro de 2008

em País

«A guerra aberta entre os professores e a ministra da Educação é um manancial de perplexidades e incómodos. Registo alguns dos que me tocam.

1. É normal a ministra da Educação receber o líder da Fenprof, Mário Nogueira, depois de este afirmar que sairia da reunião caso a ministra, nos primeiros cinco minutos de conversa, não dissesse o que ele queria ouvir? Uma ministra, que representa o Estado, deve negociar nestas condições?

2. É normal um Governo desencadear um processo de avaliação sem, pelo menos, acautelar que um número significativo de visados compreende e aceita o modelo proposto?

3. É normal as escolas decidirem e, efectivamente, suspenderem um processo ao qual estão obrigados por lei e pela dependência orgânica do Ministério da Educação?

4. É normal existirem professores que, dentro do espaço da escola, façam autênticos comícios junto dos alunos contra a ministra e o Governo? E é normal que esses e outros professores incentivem alunos a ir a manifestações de rua contra a ministra?

5. É normal que um processo de avaliação seja tão odiado que leve 120 mil professores para a rua? Ou tudo isto não passa de uma explosão dos professores que ainda tem em vista o Estatuto da Carreira Docente que os obriga a muito mais permanência nas escolas, a mais trabalho e a mais dedicação?

6. É normal o Ministério da Educação apresentar um modelo de avaliação tão complexo que, passados uns tempos, necessita (segundo afirma a própria ministra) de um ‘simplex’?

7. É normal os professores verem-se envolvidos numa clara e evidente disputa pela liderança da CGTP, pelo facto de o líder da Fenprof ser o nome que o PCP gostaria de ver à frente da central, para substituir o ‘moderado’ Carvalho da Silva?

8. É normal que o próprio conceito de avaliação tenha de ser discutido pela ministra como se de uma questão política se tratasse, e, ao invés disto, nunca se ver uma discussão séria sobre a qualidade do ensino o qual, de acordo com os indicadores internacionais, é lamentável?

9. É normal nunca termos visto uma classe tão mobilizada como os professores protestar contra a degradação do ensino ou qualquer outro aspecto directamente relacionado com a Educação, mas apenas com as suas próprias condições e retribuições?

10. É normal um Conselho de Ministros discutir como se devem avaliar professores?

Estas 10 perguntas simples têm, a meu ver, todas a mesma resposta: não, não é normal.»

Henrique Monteiro – Jornal Expresso

{ 1 comentário… lê abaixo ou adiciona }

1 Comentador Arouca 26 de Novembro de 2008 às 14:56

Em relação ao ponto número 5. devo dizer que os 120 mil professores que estiveram na manifestação não o fizeram por pressão dos sindicatos. Devo lembrar que foram os sindicatos que assinaram o acordo que implementou este tipo de avaliação. Foi uma manifestação mais espontânea do que, propriamente, organizada. Há já muito tempo que este governo mexe com os “bens” a muito custo adquiridos pelos professores.
Há uma desconfiança, generalizada, na sociedade portuguesa sobre o trabalho e o mérito dos professores, causado pelas medidas nojentas do Ministério da Educação. Há um movimento do tipo “vamos meter os professores na linha” como se tratasse de uma classe que trabalha e produz em série.
Vejamos a questão das novas oportunidades. Agora toda a gente vai ter o 12º ano, mesmo quem não seja gente. Puro acto de alfabetização forçada para ficar bem aos olhos dos europeus.
Os professores não têm medo de estar mais tempo na escola. Essa é a profissão deles. Mas tudo bem… fica-se mais tempo na escola a fazer o quê? Aumentou-se a carga horária dos alunos?Não. Há mais recursos nas ecolas para justificar a permanência dos professores durante mais tempo? Não. Aumentaram a carga horária dedicada à formação contínua de professores? Não. Aumentou a burocracia? Sem dúvida.
Os professores não sabem porque passam tanto tempo na escola a olhar para as paredes borradas das salas. Talvez se pusessem os professores a pintar as paredes eles dariam o tempo como não perdido.

Balelas e mais balelas é o que dizem os que não estão na pele dos professores, ou então aqueles professores que estão nos cargos directivos, ou aqueles que atingiram o topo da carreira com o 6º ano e mais um cheirinho de leitura e escrita…

Responder

Anterior:

Seguinte: