A NATUREZA DO PS

por Pedro Sousa em 6 de Abril de 2012

em País

«O governo PSD/CDS está em funções há meses, a maldade também já vai farta, e apesar disso, José Sócrates e o Partido Socialista continuam a estar no centro da vida política nacional. Sócrates porque convém à direita e a uma multidão de tresloucados. O PS porque é da sua natureza.

O ódio a Sócrates é um verdadeiro “case study” que devia ser tratado nas Universidades. Embora em muitos casos seria melhor que o fosse também nos manicómios, tal a insânia de tantos que espumam da boca só de ouvir pronunciar o seu nome. Sócrates é o bode expiatório por excelência para a direita no governo. Qualquer coisa que corre mal e a culpa é, foi ou será “do Sócrates”. Desde o desemprego galopante à ausência de chuva. Desde a falta de dinheiro no bolso nos portugueses ao excesso dele pago a grandes empresas em rendas e outros esquemas.

Embora este ódio resulte, na maioria dos casos, de um mecanismo de imitação, repetido “ad nauseam” por jornalistas, comentadores, conversas de café e afins, existe um fundo político. Sócrates ousou ter grandes ambições para o país e há quem não lhe perdoe. A mediocridade e o Portugal dos pequeninos são mais reconfortantes para muita gente.

Mas a virose não infeta só os que dela beneficiam diretamente. O próprio PS padece da maleita. Embora ausente em Paris, a figura de Sócrates ensombra a difícil tarefa de conduzir o partido no contexto de uma oposição armadilhada. Não por culpa dele, que se afastou de forma exemplar. Mas porque, na verdade, foi ele quem negociou o acordo que está na base da situação deplorável que o país atravessa. E não é mesmo nada fácil explicar aos portugueses onde termina o que foi assinado daquilo que está a ser feito e que, de facto, excede largamente a letra e o conteúdo do malfadado documento.

O PS é o centro político em torno do qual se organizam e definem os outros partidos. À esquerda, PC e Bloco nunca esconderam que é o PS e não a direita o grande alvo a abater. Aliados desta sempre que necessário, ajudaram a dupla Coelho/Portas a chegar ao poder. Podem disfarçar, argumentar, inventar justificações ideológicas ou pessoais mas essa é uma verdade incontornável. 

Já à direita, é natural que o Partido Socialista seja, mais do que um mero adversário, o inimigo. O PS é uma poderosa força de mudança positiva na sociedade portuguesa e, embora a memória seja curta, o partido que empreendeu as principais reformas em benefício dos portugueses. Da saúde ao ensino; dos direitos do consumidor à modernização da Administração Pública; da consciência ambiental às energias renováveis; dos direitos às liberdades; do grande salto dado nas ciências e nas tecnologias; do impressionante aumento das exportações à crescente capacidade de fazer parte das conversas do mundo, tem sido o PS o principal motor do nosso desenvolvimento. Por conveniência ideológica, pode desvalorizar-se esta ação, pode mesmo apontar-se o dedo exclusivamente aos erros cometidos, ou ficar-se pelas imponderáveis curvas da história, mas não se vê que nenhuma outra força política tenha visão, capacidade e empenho para prosseguir na linha de modernização do país. Pôr as contas em dia não é desígnio, é necessidade.

É por isso que o PS não devia dar uma excessiva importância aos ataques soezes de que é tanta vez destinatário. É a vida. Sobretudo quando se trata do professor Marcelo, que nunca deixou de fazer política em favor do seu partido, mesmo quando finge ser isento como comentador. Comentador isento é um oximoro. Marcelo usa a intriga e a cizânia com alguma mestria há que reconhecer. Mas trata-se mais de humor do que de política e só afeta quem lhe dá importância. 

Centro da vida política nacional, o PS deve concentrar-se no que realmente importa. Afinal, mais cedo ou mais tarde, o país vai ter de retomar o caminho do desenvolvimento a partir dos escombros que a direita vai deixar em herança. A direita é boa a destruir, alguém vai ter de construir. E só o PS tem capacidade para o fazer. Deve preparar-se para isso. Ponto.» [Leonel Moura Jornal de Negócios]

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1 Sardonicus 10 de Abril de 2012 às 18:34

Sócrates foi enorme. Criou a crise. O Mundo rendeu-se-lhe. Todo. Tremeram as economias da costa oriental da Kamchatka até à costa ocidental dos EUA. De acordo com alguns economistas brilhantes que estão a polir os bancos da AR tudo da crise e na crise se lhe deve. Arre, que é muito! Com papas e bolos…

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