Quando o pequeno grande arquitecto almoçava com primeiros-ministros

por Pedro Sousa em 11 de Março de 2010

em País

    Um último tema de almoço foi a comunicação social. O caso Marcelo/TVI, as mudanças na Lusa (para onde fora nomeado um indefectível Santana Lopes: Luís Delgado) e na RTP (onde se falava da substituição de José Rodrigues dos Santos), o problema da direcção do DN (onde Fernando Lima fora destituído, tendo sido convidada para o substituir a Clara Ferreira Alves, que acabaria por declinar – vindo o cargo a ser ocupado por Miguel Coutinho, do qual já se falou, e que também não aqueceria o lugar).Perguntei directamente a Santana Lopes qual era o objectivo de se abrirem tantas frentes de guerra, sendo certo que o Governo nunca controlaria a comunicação social, porque isso se tornara impossível nos tempos modernos. “Você acredita mesmo que é possível domesticar uma redacção?”, interpelei-o directamente. Ele respondeu-me que eu teria razão, mas desabafou: “O que é que você quer que eu faça? O Luís Delgado entra-me por aqui dentro a pedir para fazer mudanças e eu não posso dizer a tudo que não; e depois o Morais Sarmento (ministro que tinha a tutela da televisão publica) é um excitado e está em guerra com a RTP…”. Percebi nesse almoço que não havia volta a dar à situação: o desvario tinha-se instalado no poder’.
    José António Saraiva (Confissões, 2006, pp.390-391) (quando ainda era director do Expresso)

Observe-se o raciocínio do pequeno grande arquitecto: as suas dúvidas relativas às “frentes de guerra” abertas pelo Governo de Santana com a comunicação social e à aparente vontade deste de controlar a comunicação social (é nestes termos que o autor coloca a questão) incidem apenas no facto de isso ser, por um lado, uma impossibilidade nos “tempos modernos” e, por outro, um sinal de incompetência e de “desvario” do poder politico.

Por outras palavras, o pequeno grande arquitecto nunca põe em causa os propósitos políticos que estas intenções do Governo de Santana revelam. As suas “frentes de guerra” podiam ser censuráveis por motivos diferentes (impossibilidade de atingir o objectivo, incompetência e descoordenação na acção governativa), mas não pela vontade de controlar a comunicação social que o autor imputa ao primeiro-ministro Santana Lopes.

Acresce que, se o pequeno grande arquitecto sabia do que descreve no seu livro, por que não denunciou esta situação no Expresso na altura exacta? Por que reduz tudo isto a um quase fait-divers político?

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